sexta-feira, 30 de março de 2007

O silêncio que não quer calar


Duas coisas chamaram minha atenção na visita à Casa Branca. Primeiro foi o fato de só haver um único carro de polícia na frente da residência mais importante do país, e dentro dele apenas um solitário e convencionalmente armado policial. A outra foi Conchita.

Concepcion Martin Picciotto, a Conchita, montou acampamento na calçada defronte à Casa Branca em 1984, e desde então não arredou o pé de lá. Minto: assim que tomou posse, George W. Bush, num ato brutal, covarde e anti-democrático, obrigou Conchita a fixar residência na calçada oposta, do outro lado da rua. Um monstro desalmado, este sujeito.

Conchita está lá para protestar contra a política externa norte-americana. Espanhola de nascimento, poderia ter retornado à terra pátria para reclamar da temperatura das tortillas ou da pífia campanha do Real Madrid. Mas seu sangue quente e espírito contestador exigiam algo mais importante.

“E como ela protesta?” – vocês hão de me perguntar. Andando de um lado para o outro, empunhando cartazes e bradando palavras de ordem? Jogando ovos e tomates contra a fachada da Casa Branca? Cuspindo por entre as grades e amaldiçoando o presidente? Nada disso. Conchita fica sentada, o dia todo. Quieta, muda.

Trata-se de um protesto silencioso, passivo. Pode não ter a estridência que muitos desejam, mas é um protesto nobre. Eu mesmo sou fervoroso adepto do gênero. Ontem protestei silenciosamente contra os altos impostos, a fome mundial e o preço da gasolina. Hoje me excedi e até emiti um grunhido contra o monopólio da Microsoft.

Mas voltemos à Conchita. No dia da minha visita ela estava como em todos os outros, sentada em um banquinho que mal se via, debaixo de mudas e mais mudas de roupas, xales e mantas. Lançava um olhar perdido, daqueles que atravessam tudo e todos e alcançam o infinito. O ar resignado dava uma qualidade barroca à dilapidada senhora.

Ela está convencida de que George Bush invadiu o Iraque por causa do petróleo. Não posso imaginar de onde ela tirou esta idéia tão arrojada e inédita. Acredita também que ele sabia do ataque de 11 de setembro e que foi tudo uma grande farsa. Enquando entoava sua cantilena, percebi que sobravam apenas uns parcos dentes em sua boca. Imagino que perdeu os outros de tanto rangê-los em seus protestos introspectivos.

Sua assessoria de imprensa organizou um respeitável clipping das matérias sobre o protesto, veículados em todas as partes do mundo e que Conchita mantém num arquivo dentro da tenda. Sua organização, a Vigília Anti-Nuclear na Casa Branca Pela Paz é mantida por ela, Concepción, e por W.Thomas. A ausência de W. Thomas na tenda e nas reportagens leva a crer que ele é o Venture Capitalist e, enquando escrevo estas mal traçadas linhas, deve estar promovendo a abertura de capital da operação. Money makes the world go’round, baby.

Estação...Aeroporto

O metrô, que no Brasil é um luxo para poucas metrópoles, aqui está disponível em muitas cidades com menos de 1 milhão de habitantes. E em quase todas você consegue chegar no aeroporto de trem, sem trânsito, por preços módicos. Não dá para achar ruim.
O sistema de transporte coletivo de cada cidade americana tem suas idiossincrasias. Em Washington, por exemplo, a tarifa varia de acordo com a distância percorrida. O problema é que assim que você se vê dentro da estação, não tem a menor ideia do que e de como fazer. Felizmente uma Autoridade de Trânsito, devidamente uniformizada e com emblemas respeitosos, logo percebe seu ar abobalhado vem ao seu socorro. Eficientemente, mas sem delicadeza e excesso de cortesia que é para não te acostumar mal.

Desembarque, portão 9

É sempre excitante chegar em outro país. A princípio até as coisas ordinárias ficam especiais. O carpete do aeroporto tem um charme especial. O ar, um cheiro diferente. Até os gases do escapamento dos carros têm sua graça.

No início da primavera, a grama do vizinho parece sempre mais verde.