sábado, 2 de junho de 2007

Nova York, mas que nada!


Marcão é uma das maiores fuguras que conheço. Estudamos juntos na faculdade. Dono de uma visão do mundo peculiar e autor de frases memoráveis, tem uma personalidade contagiosa. Depois de algumas horas em contato com ele você se vê repetindo suas expressões com o mesmo falso sotaque caipira e o maxilar dolorido de tanto rir. Entra ano e sai ano, as piadas, frases e comentários são os mesmos e o mais incrível é que continuam funcionando. O mérito é justamente esse. Num mundo que muda tanto e cada vez mais rápido, Marcão é uma das poucas certezas absolutas. Um conforto para a alma.

Quando da nossa viagem, Marcão trabalhava para uma multinacional e, por conta disso, estava alocado em White Plains, lugarejo distante 45 minutos de Nova York, e lá morava com sua mulher, Cris, e o filho, Érico. Sabendo da nossa viagem, nos convidaram para ficar em seu apartamento, o que seria uma ótima base para atacar Nova York sem se engajar com os altos custos de hospedagem da Grande Maçã. Acabou sendo tão agradável passar os dias com nossos amigos expatriados que mal fomos à cidade, o que não chegou a ser uma perda sensível. Trata-se de uma das cidades mais incríveis do mundo, sem dúvida. Só que não pertence mais aos EUA, já ganhou vida própria e está além de qualquer classificação, e o objetivo da jornada era conhecer melhor os Estados Unidos. Ademais, Nova York não nos seria novidade.

Tiramos o feriado da Páscoa para falar das novidades e relembrar as mesmas histórias de sempre. Ficamos em casa. Lá fora nevava, Cris estava completamente absorta no gerenciamento do pimpolho e White Plains também não justificava um passeio. Naquele mesmo dia D. Cida, mãe da Cris, estava de chagada marcadaentão resolvemos presenteá-los, com uma lauta refeição brasileira, a base de arroz, feijão e farofa, produzida com esmero enquanto Marcão buscava a sogra e Cris corria atrás do petiz.

Nossas iguarias foram ofuscadas pela esfuziante chegada de D. Cida, que veio do brasil trazendo consigo um repeitável lombo de bacalhau do Porto. Virou, é claro, a atração. Como D. Cida passou pela alfândega com o perfumado acepipe, é um mistério. Deve ter sido tomada por uma turista européia de hábitos higiênicos duvidosos.

Comer comida brasileira no exterior, feita em casa, tem um significado simbólico, algo que vai além do conforto do paladar e da digestão. É estar em território brasileiro, como pisar dentro da embaixada. Nelson Rodrigues dizia que a gente só gosta daquilo que comia quando criança. Emendo e faço minha versão: só nos sentimos no Brasil com a nossa comida, nosso tempero.


Ah, a imagem acima é do Érico. Sua identidade está sendo preservada de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. E para ninguém colocar quebrante no menino.

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