domingo, 29 de abril de 2007
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Falando assim parece que tenho algo contra idosos. Nada mais longe da verdade. Só não gosto de viajar em avião cheio deles. Vai que chegou a hora da maioria? A Morte resolve fazer um rapa para economizar tempo e quem estiver no mesmo vôo acaba fazendo parte da excursão para o além.
Os velhinhos de Atlantic City não querem nem saber disso e passam o dia enfurnados nos cassinos. Jogam sem medo do amanhã. Mas não parecem se divertir muito, perdem e ganham com a o mesmo ar anestesiado, com a mesma resignação bovina. Obviamente perdem muito mais do que ganham. Afinal o cassino precisa pagar também precisa pagar suas contas e remunerar os acionistas. Mas ao contrário dos mais jovens, que realmente acreditam poder resolver sua vida numa mesa de poquer, os coroas parecem que jogam para perder. Mais ou menos como torcer para o Botafogo, uma coisa beirando o masoquismo. Uma senhorinha nos perguntou no elevador quanto havíamos perdido. “Desde que chegamos, 20 dólares” respondi com uma ponta de mau-humor. Ela olhou com um ar de total desprezo e disse “Só isso? Hoje já perdi mais de 500!” Isso porque ainda estávamos descendo para tomar o café da manhã! Até o final do dia essa frágil senhora já teria torrado as mensalidades da faculdade de um dos netos. Velha desalmada.
Por fora, bela viola.
À distância Atlantic City é deslumbrante, uma versão menor de Las Vegas – ou melhor, aquilo que eu imagino ser Las Vegas, já que ainda não chegamos lá. Os gigantescos edifícios, com seus luminosos coloridos deixam o céu incandescente. Se algum dia um avião se espatifar contra um prédio em Atlantic City, podem ter certeza que foi de propósito.
De perto a história é bem diferente. Fora dos cassinos reina um ambiente soturno e depressivo. A verdade é que Atlantic City foi um dia a praia preferida dos abastados até que, depois da Segunda Guerra, foi trocada por outros points. Em 1977, na tentativa de devolver-lhe os dias de glória, o estado aprovou a instalação dos cassinos. Nada como jogo, drogas e prostituição para trazer a alegria de volta a um balneário tristonho.
Os cassinos trouxeram sim os turistas, mas não quiseram dividí-los com a cidade. Fazem de tudo para que as pessoas não saiam às ruas. Dentro há lojas, restaurantes, bares e, obviamente, um imenso cassino. O Tropicana, por exemplo, se deu ao luxo de pintar seu teto de azul com nuvens brancas e iluminar de maneira que pareça sempre um fim de tarde. Quer dizer, nunca é tarde nem cedo demais para torrar seu rico dinheirinho.
É claro que sempre sobra uma rebarba para o restante do comércio e pequenos hotéis, mas não o suficiente para animá-los a fazer reformas e benfeitorias. Os cassinos são ilhas de diversão no meio do marasmo decadente, lascas de sabor no pão bolorento que é o resto da cidade.
Tão longe de Deus, tão perto de Nova York...
Para revidar, o jerseyanos transformaram Atlantic City, um pitoresco balneário, em uma infernal cidade de cassinos. Mas não adiantou nada. O pessoal de Nova York e da Filadelfia, os maiores consumidores da diversão de Atlantic City consideram a cidade como sua e continuam a tratar o estado com o desdém de sempre. Se antes New Jersey era o sujeito mais ridicularizado do bairro, agora é como se além disso sua filha desse para todo mundo.
quinta-feira, 19 de abril de 2007
Mantendo o bom desempenho dos fundos no longo prazo
Sempre carreguei comigo a imagem dos americanos sofrendo após a feijoada, o acarajé, o vatapá. Como então eles aguentam tanta pimenta? O papel higiênico, oras! Existem uns papéis tão macios e suaves que parecem fios de algodão egípcio, tecidos por mocinhas virgens ao som de Jesus Alegria dos Homens.
Louvado seja.
terça-feira, 17 de abril de 2007
Êxodo 20:2-17
Imaginava que a viagem de ônibus seria numa máquina nova, moderna, confortabilíssima. Ledo engano. O veículo tinha, por baixo, uns vinte anos. Sei que manter um ônibus antigo com as peças originais tem seu charme vintage, mas acho recomendável trocar a suspensão e os amortecedores de tempos em tempos. No entanto o pessoal da Greyhound não compartilha da mesma opinião. Dava para sentir cada ondulação da pista, por mais sutil que fosse. Um motorista cego seria capaz de dirigir em braille.
Momento cultural
A gente não quer só comida
É o caso do Walters Art Museum, em Baltimore. Dos 28.000 itens do museu, 22.000 foram adquiridos por Walter pai e Walter filho. São obras de arte, porcelanas, jóias, relíquias do mundo antigo, móveis, borboletas e animais empalhados. Bugigangas de gente rica para entreter as visitas enquanto a janta não fica pronta.
terça-feira, 10 de abril de 2007
Quem veio primeiro?
Para pensar na cama.
About Timore
Um dia Baltimore sacodiu a poeira e deu a volta por cima. Seguiu a fórmula infalível que se usa aqui nestas bandas: pegue a área mais interessante da cidade, faça uma grande praça de alimentação, coloque um Hard Rock Café e uma livraria – no caso a Barnes & Noble – e pronto! Não requer prática tampouco habilidade.
Foi o que fizeram com o Inner Harbor, na região central. De lambuja Baltimore ainda recebeu o Aquário Nacional, imenso. Vivem lotados. Os Orioles também foram presenteados com o Camdem Park, um estádio moderno mas construído no estilo retrô dos mais tradicionais ballparks da América. Uma beleza. No entanto continuam não dando alegrias.
segunda-feira, 9 de abril de 2007
Só Preto Sem Preconceito
Hoje a rua é salpicada de simpáticos restaurantes e bares, todos com a mesma aparência confortável e cardápio semelhante. Um inferno para os indecisos. Apesar do horário da vida noturna de Washington ser flexível, o frio não é amigo das baratas tontas. Felizmente, enquanto olhávamos o cardápio do Jojo’s, um sujeito vaticinou: “Este é o melhor lugar. Se vocês não gostarem eu pago a conta”. Ora, nada melhor do que uma noitada com hedge.
De fora tive a impressão que fosse uma casa frequentada apenas por negros. Na minha cabeça brasileira, orgulhoso do nosso suposto cadinho de raças, americano adora uma discriminação: branco só anda com branco, preto com preto, amarelo com amarelo. Como fomos convidados, entramos. Qual não foi minha surpresa ao ver um público etnicamente eclético. Na mesa ao lado um branco, um negro e um sikh - com seu indefectível turbante - dividiam uma garrafa de uísque. O mais curioso foi que, quando a banda começou a tocar, as moçoilas caucasianas eram as mais entusiasmadas, dando gritinhos e dançando sensualmente no minúsculo salão, enquanto as afro-americanas pareciam tomar chá com a rainha.
quarta-feira, 4 de abril de 2007
O Graal de Hollywood
Fomos guiados por Bunny, uma hostess com nome de poster central da Playboy mas silhueta digna de Sea World. Nos explicou tudo com aquele olhar fascinado dos recém convertidos. Ouvimos uma das centenas de diferentes palestras que compõem o credo cientologista. Para nós, brasileiros, foi narrada em português. De Portugal. O que Bunny não sabe é que qualquer coisa falada com a pronúncia lusitana soa como piada.
Resumindo, trata-se de auto-ajuda transformada em religião. E com uma pitada de subversão. Para se ter uma ideia, Bunny tirou os dois filhos da escola para educá-los na verdade da Cientologia. Antes eles tinham notas baixíssimas, e agora têm QI acima de 130, uma beleza.
Lair Ribeiro, morra de inveja!
domingo, 1 de abril de 2007
Impurina
Fizeram o recall de 60 milhões de embalagens de ração, e até agora foram confirmadas as mortes por envenenamento de 16 gatos e cachorros, sem contar Anna Nicole.
Adeus Abeba
A comida veio num balaio com o fundo coberto por um pão redondo. Nada de talheres, apenas mais alguns discos do mesmo pão foram trazidos para que pudésemos pegar as iguarias com a mão. Não sei se pão é o termo certo para a coisa. Tratra-se de uma massa mole, esponjosa, cinza e com um ligeiro odor acre. A coisa que mais se assemelha a ele é um pano de chão. Usado é claro. Nunca coloquei um pano de chão na boca, mas a sensação não deve ser muito diferente. De resto a comida até que não é má, os temperos lembram muito a culinária indiana. Mas precisamos recorrer ao prestimoso auxílio de uma garrafa de Cabernet da Califórnia para dar conta do recado e amenizar o sofrimento.
Para resolver o problema da desnutrição na Etiópia, esqueçam a Cruz Vermelha. Mandem os Padeiros Sem Fronteira.
Por 10 Dólares Furados
Pois bem, depois de pegar as águas, o pistache que estava em promoção e mais algumas miudezas a preços imperdíveis, fui ao caixa e lá atendido por um sorridente funcionário – o que já levantou suspeitas. A compra totalizou 6 dólares. Entreguei uma nota de 10 e o sujeito registrou na caixa como se eu tivesse dado 20 e o troco, ao invés de 4, seria 14. Assim que percebeu o equívoco, colocou as mãos na cabeça e disse “Oh meu deus, errei!”. Para evitar que a situação fugisse de controle, prontamente me ofereci a trocar a nota de 10 por uma de 20, e assim facilitar o dilema matemático em que o pobre homem havia se colocado. Mas era tarde, o pânico já havia se instalado e ele precisou chamar o gerente para resolver o imbroglio. Sem esboçar nenhuma reação, o gerente apenas mandou o caixa me dar 4 dólares e esquecer o assunto.
Não é à toa que os Estados Unidos são a terra das oportunidades. Até os lobotomizados encontram emprego nesta grande nação.
The book is on the table
Perdoai-os Senhor, eles não sabem o que ouvem.