Antes de partir definitivamente de Rhode Island precisei satisfazer uma curiosidade. Tenho uma coleção de rótulos de cerveja, muitas que deixaram de ser fabricadas. Uma delas é a Narragansett, que fechou suas portas em 1981. No entanto a América vive um revival e cervejas andam ressucitando como Lázaros engarrafados, país afora. Inclusive a “Gansett” como é carinhosamente chamada.
Ela já foi a cerveja mais popular da Nova Inglaterra. Teve participação especial no filme Tubarão (era a marca que Quint, o caçador de tubarões, bebia). Diz a lenda que na sua fábrica os funcionários não só podiam beber durante o expediente como, quando flagrados com uma garrafa de refrigerante, recebiam automaticamente uma cerveja em troca. Quer dizer, motivos não faltavam para simpatizar com a marca. E, por uma incrível coincidência do destino, a cidade de Narragansett fica em frente à Newport, do outro lado da baía.
Com essa história comovente, convenci Cássia a desviarmos de nosso caminho e perder algumas horas. Eu tinha um dever, uma responsabilidade histórica e moral de ir até Narragansett, tomar uma Narragansett. Tudo bem que a história não era completamente verdade, a cerveja nunca deixou de ser produzida. Passou sim uma longa temporada sendo fabricada por outra empresa em outro lugar. Apenas detalhes, detalhes.
Chegamos em Narragansett debaixo de forte chuva e um frio cão. Parei num posto de gasolina e comprei uma garrafa do cobiçado suco de cevada. Fomos até o a praia onde o inclemente Atlântico Norte castigava com ondas as pedras e as muretas de proteção. A pequenina cidade parecia se esconder da tempestade furiosa. O vento uivava pelas frestas do carro. Coloquei a capa de chuva, saí com minha garrafa de Narragansett Lager. Ainda gelada. O vento era tão feroz que mal deu para ouvir o barulho do gás quando girei a tampa. Dei, enfim, o primeiro gole.
Que cervejinha de merda!
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