sexta-feira, 20 de março de 2009

Navegar é preciso

Com 3 dias na mão, não podíamos ir muito longe. Pensamos em visitar Nantucket, Cape Cod ou Martha’s Vineyard, onde a aristocracia americana ancora seus iates e passa as férias, decidindo o destino do mundo entre um scotch e outro. Acabamos em Newport, Rhode Island, mais próximo de Portland e também porto da elite em veraneio.

Eu já havio estado em Newport, levado pelos meus dios. Naquele verão de 1985 a cidade fervilhava com os barcos, salpicando de branco a imensa baía de Narragansett. Embarcações de fino trato misturavam-se com as esportivas (Newport tem larga tradição náutica, hospedou por décadas a America’s Cup). Lembro-me especialmente de uma loja especializada em bandeiras, onde comprei uma pequena, de Connecticut. Que nem era a mais bonita. Fui um adolescente puxa-saco, confesso.

Agora, de volta, tudo estava diferente. Diz o poeta que nunca entramos duas vezes no mesmo rio. Talvez fosse a época do ano, talvez fosse eu mais impressionável quando guri, só sei que não pude conter minha decepção neste retorno à Newport. Um deserto. A mais pura síntese da expressão “baixa-temporada”. Barcos ancorados, velas recolhidas e cobertos por lonas, como móveis numa casa fechada. O céu acinzentado, a baía vazia ao fundo e o sossego sepulcral, compunham uma cena melancólica, digna das tintas de Edward Hopper. Certas cidades têm alma, que emana de suas ruas, edifícios ou da natureza ao redor. Outras só têm vida com gente dentro. Newport é do segundo tipo, uma fantaisa de marinheiro esperando o folião.

Contagiados pelo clima anestésico, andávamos a esmo pela cidade, com olhar bovino e distante. Haviam alguns outros turistas, que reencontrávamos nos pontos turístico inevitáveis. Depois de um tempo já nos cumprimentávamos com triste cumplicidade. Um breve meneio de cabeça com um sorriso amarelo que dizia “que merda, não?”.

Isto é, quando havia alguém para cumprimentar. No Fort Adams, por exemplo, não havia uma única viv’alma. Ninguém. Apesar de desativada, é a maior fortificação da costa americana e nós entramos e saímos sem ser incomodados. Para aqueles que pretendem invadir os Estados Unidos sem encontrar resistência, e precisam de um lugar para se aquartelar, fica aí uma dica: Fort Adams.

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