Os magnatas estão enterrados num local magnífico, com suaves elevações, muitas árvores e um riacho que serpenteia languidamente o cenário, terminando seu trajeto no Rio Hudson. As lápides brotam sutilmente do gramado impecável e os mausoléus familiares erguem-se como imponentes monumentos. É tão arborizado que faz às vezes de parque. Famílias passeam, crianças brincam de pique e casais namoram. Os mais resolvidos podem até fazer um salutar piquenique sem parecer mórbido. Não, não, piquenique já é um pouco demais.
É uma paisagem tão agradável que os abastados não se incomodam de construir suas residências nas proximidades. A gigantesca propriedade dos Rockefeller,Kykuit , é contígua ao cemitério, onde William - que junto ao irmão John fundou um dos impérios empresariais mais famosos do mundo - está enterrado. William poderia muito bem estar enterrado não próximo, mas dentro do terreno dos Rockefeller. Ora, o sujeito construiu a casa, morou lá por toda a vida, porque não passar a eternidade no seu local predileto? Por que o sujeito, depois de morto, não pode mais desfrutar do convívio com os seus? Vira um inconveniente, despachado para passar a eternidade junto de completos desconhecidos e receber apenas de duas a três visitas por ano. Mandar um velho senil para o asilo é até compreensível, mas o morto não dá trabalho nenhum. Fica ali, decompondo-se em silêncio, servindo de adubo. É claro que não precisamos construir túmulos no quintal ornados por estátuas de anjos chorando e santas sofrendo. Mas não vejo nada de errado em enterrar o parente ao pé do limoeiro ou sob o jardim de antúrios, crisântemos e gardênias.